terça-feira, 22 de junho de 2010

1 Samuel 1. Análise do "tempo"

Continuo a apresentação dos aspectos narrativos de 1 Samuel 1 voltando minha atenção para o elemento "tempo".

É necessário não esquecer o que afirmei na mensagem anterior, que os dados da narrativa devem ser vistos primeiramente como componentes "internos" de sua estruturação.

Após introduzir a história com a descrição dos personagens - Elcana, Penina e Ana -, e a constituição dos cenários - estão em Ramataim-Zofim, mas também se deslocam para o santuário de Silo - o narrador apresenta um dado temporal ao dizer que a família subia para Silo de "ano em ano" (v. 3). Isso é importante por situar temporalmente o que acontecerá a seguir: a humilhação imposta a Ana por Penina. A informação fica ainda mais clara com a afirmação ao término da disputa entre as mulheres: "E assim o fazia ele de ano em ano" (v. 7). Ou seja, a humilhação se repetia anualmente no santuário.

Outro elemento temporal, este com a função de organizar toda a narrativa, surge quando Ana faz voto ao Senhor dizendo que, se ele olhar para sua aflição e lhe conceder um filho, ela o dará ao Senhor (v. 11). Isso significa que o tempo exerce a função de gerar a tensão que se manterá até o nascimento de Samuel. Esse aspecto é ainda mais intensificado quando, após desfazer o equívoco de Eli, que pensava estar Ana embriagada (v. 13), esta recebe a bênção do sacerdote: "Vai-te em paz, e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste" (v. 17). Fica a pergunta: Deus responderá, de fato, a Ana? Quando e como fará isso?

A partir do v. 19 segue-se a descrição da gravidez de Ana e do foco que se coloca em Elcana que segue com sua vida sem mudanças. Novamente, como fazia anualmente, ele sobe para Silo (v. 21). Mas desta vez Ana não o acompanha. Para ela, surge um novo ciclo temporal. O que determina o novo tempo de Ana é seu filho Samuel. Ela irá para Silo somente quando a criança puder acompanhá-la (v. 22). O que determina seu tempo não é mais o sacrifício anual, que podemos denominar "genérico", mas um tempo especial, específico, que é vinculado especialmente a ela: a obtenção de seu pedido e a consequente manifestação de louvor e a entrega da criança a Deus que serão feitos no santuário (v. 24-28).

Portanto, se Silo, como cenário, é o local da humilhação e também da restauração de Ana, o tempo é o configurador da narrativa. Inicialmente ela participa do tempo de Elcana e Penina, tempo de sacrifício anual. Posteriormente surge um tempo próprio, especial, que é o de seu pedido pungente e o cumprimento dele com o nascimento de Samuel, que transforma sua vida.

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