quarta-feira, 9 de junho de 2010

Romanos 12.1-2 e uma provocação

Mudo um pouco o tema da discussões a respeito de Romanos não por discordar dos posts de Júlio e Paulo, mas simplesmente por não ter nada a acrescentar àquilo que eles têm dito. A esse respeito, sou acima de tudo leitor de suas mensagens.

Quero abordar Rm 12.1-2 de uma perspectiva provocadora, não no sentido negativo, de querer confrontar posições ortodoxas ou o que o valha pela simples razão da polêmica. Mas prococadora do ponto de vista hermenêutico, proponto um viés interpretativo diferenciado para o texto.

Normalmente o texto é interpretado, principalmente em suas duas questões principais: o "culto racional" e a "renovação da mente", em uma perspectiva individualista/moralista. Explico.

Eu, cristão, preciso desenvolver individualmente uma postura de santificação que resulta em uma entrega total da vida a Deus. Esse é o meu "culto racional", em oposição a um culto irracional, muitas vezes entendido nas igrejas tradicionais como uma oposição ao sentimentalismo, ao emocionalismo, aos dons, vivenciados pelas comunidades pentecostais.

Bem, primeiro é necessário dizer que, pelo que entendo, a melhor tradução não é culto "racional", mas sim "lógico", visto que o termo grego utilizado é "logiken". A oposição, portanto, é entre um culto que é ilógico, sem sentido, contraditório, e um culto que se manifesta coerente, que faz sentido, ou seja, lógico. Para desenvolver o culto lógico será necessário possuir uma "mente renovada".

O que proponho é que vejamos a terminologia cúltica não apenas como uma transposição tomada do culto judaico, de onde provêm os termos "sacrifício vivo, santo e agradável a Deus", mas sim em seu contexto concreto, de culto mesmo. Em outras palavras, por que razão aceitamos que os termos são originários do culto, portanto uma atividade coletiva, e o aplicamos à conduta individual do cristão? Isso não me parece muito coerente.

Penso, portanto, que Paulo está falando da reunião cristã como o culto a ser desenvolvido de modo lógico. Por quê? Em virtude das disputas e oposições que estavam ocorrendo entre as duas correntes que pertenciam à igreja de Roma: cristãos de origem judaica x cristãos de origem gentílica. E não é por menos que a disputa girava em torno de questões relacionadas à mesa, aos alimentos (cf. todo o capítulo 14), motivo de tensão já testemunhado por Atos dos Apóstolos, 1 Co 8 e Gálatas 2. E, lembremos, as reuniões cristãs eram feitas em casas, em torno da mesa onde a ação de comer simbolizava a comunhão entre todos e de todos com Cristo.

Mas a prática da comunidade romana estava distante daquilo que Paulo esperava. Eles estavam "se conformando com o mundo", agindo, na mesa, a partir de critérios estranhos ao cristianismo. Isso significava que eles precisavam, para vivenciar a comunhão e praticar o culto lógico, renovar a mente, a forma de pensar e conceber tais questões.

Convém, finalmente, destacar que os pontos em discussão em Rm 12.1-2 estão ligados diretamente aos temas do justo/justificação/graça, contrários à vida sob a lei, sob o pecado e, como produto final, sob a morte.

13 comentários:

  1. Olá,
    será que a tradução "logiken" como "lógico" não carrega um pouco a idéia do que criticaste (oposição ao emocional, que por sua vez trás um pouco de ilógico...)? O que achas de traduzir lógiken como "profundo" ou "espiritual" (sem perder o contexto de culto, como mesmo mostraste) não no sentido "pentecostal" (pentecostal para o senso comum), mas em relação com justo/justificação/graça?

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  2. Kenner,

    Pode ser que eu tenha caído em contradição. Mas traduzi logiken por "lógico", querendo enfatizar o aspecto da "coerência" desse culto que Paulo ressalta, à luz da possível incoerência em que os cristãos romanos estavam vivendo.

    A ideia de traduzir por "profundo" ou "espiritual", se colocada no contexto que descrevi, também cabe certamente.

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  3. Permitam-me meter o bedelho nesse debate ...
    Há anos venho lutando com essa palavra "logiken". De uma coisa já tenho "certeza", não vejo nenhuma razão lingüística para a tradução "espiritual", ainda que defendida por grandes comentadores de Romanos!
    A tradução "racional" seria a mais simples, não fosse o peso insustentável que ela carrega por causa dos debates filosóficos e teológicos. A opção "coerente" (ou "lógico) me parece oferecer boas possibilidades, mas não a faria em debate com uma possível incoerência dos crentes romanos.
    Vou na direção do Leonel, e descreveria Rm 12,1-2 como uma exortação de Paulo aos romanos para que, nos cultos, eles praticassem a renovação da mente, ou seja, que a adoração a Deus servisse para a auto-reinvenção de cada um e da comunidade, e não voltasse ao modelo sacrificial, antropocêntrico ou teocêntrico. O culto seria muito mais uma "festa teológica-racional" do que uma reunião estética ou extática ...

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  4. Leonel, uma pergunta: Será que este culto "lógico" ou "racional" tem relação com a "obediência da fé" que aparece em Rm 1.6?

    Penso que Paulo deseja que os "cristãos", embora não necessitem da Lei, devem também apresentarem-se diante de Deus puros, imaculados como bons sacrifícios, porém vivos (12.1). Esse tipo de "santidade voluntária" me parece ser o culto "lógico", ou mesmo a "obediência da fé". Acha que este é o caminho?

    Também pergunto-me sobre o que seria exatamente o "culto" a que o texto se refere? Esse termo sem dúvida é um daqueles que conduzem os leitores modernos a equívocos exegéticos.

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  5. Anderson,

    Sim, essa discussão toma como base princípios apresentados anteriormente, entre eles a fé/fidelidade como único caminho possível para o cristão relacionar-se com Deus em Cristo.

    Sim, o sacrifício comunitário, possível pela renovação da mente, é o contexto no qual Paulo valida o culto oferecido a Deus.

    O culto toma como contexto lexical as cerimônias sacrificiais do AT e é aplicado e atualizado nas reuniões domésticas praticadas pelos cristãos.

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  6. amigo, super nem li nada ainda do que vc escreveu. só queria comentar sobre essa biblia online aí!! que loucura!que pratica!

    amei. beijo

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  7. Rayssa,

    Realmente, a Bíblia online é muito prática.

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  8. Estou sentindo falta de novos posts...o que aconteceu? Estão dando tempo para as discussões?

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  9. Concordo com o irmão Kenner Terra, o Texto acima é muito bom o Irmão João Leonel está de parabens. No entanto o apóstolo Paulo neste capítulo e versiculo um expõe os deveres gerais que devem fazer parte da vida do cristão como uma resposta aos dons da justificação pela fé.O cristão deve oferecer a Deus corpo e alma para o cumprimento de sua vontade. Refiro-me claro ao todo e não somente a um individuo. Sou pentecostal e prefiro a tradução que versa "culto espiritual" creio ser o mais logico para a logica abordada pelo texto.Pois o que procede do espirito supera a razão humana embora a segunda seja o complemento da primeira. Toda postura cristã deve seguir o bom siso.

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  10. Haroldo,

    Obrigado pela contribuição. Quanto a "espiritual" como proposta, sugiro a leitura da mensagem do Júlio logo acima.

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  11. ACHO DE SUMA IMPORTÂNCIA ESTES DOIS VERS. PQ AINDA QUE O TEXTO NA SUA AMPLITUDE TRATA DO CULTO RACIONAL DEVEMOS ENTENDER QUE DEUS NA SUA MAIOR AMPLITUDE QUER NOS MOSTRAR QUE O NOSSO CULTO RACIONAL NÃO PODE E NÃO DEVE IMPEDIR DE BUSCARMOS A ESPIRITUALIDADE, DENTRO DE UM CULTO RACIONAL.

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  12. apesar da carta
    Rmanos, ter duas divisões vejo

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  13. A melhor tradução é espiritual, pois uma liturgia pode e deve ser bem lógica, entretanto, pode se fazer por fazer, sem ser acompanhado por uma comunhão sincera.

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