sexta-feira, 9 de julho de 2010

Acesso a Deus, mas a que Deus?

Escrevo este post em reação ao post do Leonel sobre Deus em Jeremias 31. Reação de cumplicidade ...

Se, do ponto de vista sociossemiótico, a ênfase central do texto é o acesso a Deus, do ponto de vista teossemiótico trata-se, primariamente, de que Deus e de quem tem acesso a tal Deus. Leonel destacou, a partir do conjunto do capítulo 31, as várias descrições passionais de Deus (que, incidentalmente, revelam a dívida de Jeremias para com Oséias). Essas descrições passionais contrapõem um Deus pessoal, amoroso, relacional a um Deus impessoal, rancoroso, institucional. Notem, por exemplo, esta descrição das pessoas a quem Deus dirige seu amor:"os cegos e aleijados, as mulheres grávidas e as de parto" - exatamente o tipo de pessoas que estariam excluídas da congregação sacrificialmente reunida, posto que seriam pessoas impuras sob a lógica templário-sacrificial.

O contraponto, então, se dá entre um Deus que divide o mundo entre pessoas puras e impuras, oferecendo sua casa às puras e interditando o acesso das impuras - esse é o Deus da religião oficial da corte judaíta, sustentada pelo sacerdócio e seus templos, rituais, doutrinas e esquematizações discursivas. Esse Deus é contraposto por outro, um Deus que não divide o mundo entre pessoas puras e impuras, mas que divide o mundo entre pessoas que estão na sua família e pessoas que não estão - e oferece às que estão fora a oportunidade de entrar - esse é o Deus da religião herética dos profetas (mas, lembre-se, Jeremias era um sacerdote!), que tenta subverter a lógica da religião oficial mas, constantemente, é subjugada por essa lógica cujo aparato de poder derrota as heresias.

Porém, como a divindade dos profetas heréticos é teimosa, também as críticas proféticas são teimosas. Sempre reaparecem, subversivas, aqui ou acolá, hoje ou amanhã, atormentando as religiões oficiais e as acomodações pessoais a padrões religiosos não emancipadores (populares, de classe média, elitistas, etc.). Exegese e teologia se dividem entre as que apóiam e legitimam as religiões oficiais e suas acomodações na sociedade, e as que criticam e subvertem as religiões oficiais e suas acomodações na sociedade. Difícil é fazer a escolha certa, posto que exegetas e teólogos não possuem nenhuma qualificação especial e peculiar que lhes possibilitem diferenciar entre as escolhas. Difícil é também perceber quem fez a escolha certa, pois alguns de nossos padrões são tão rígidos que Jeremias, por exemplo, por ser sacerdote, ficaria na turma dos errados...

2 comentários:

  1. Irmão Júlio, Paz... Parabéns pelo seu excelente trabalho no seu blog. Deus seja contigo. Já estou te seguindo e te convido a conhecer o meu blog também...

    Link de acesso:
    http://wwwteologiavivaeeficaz.blogspot.com/

    Att.,

    F. A. Netto

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  2. Obrigado Francisco. Vou passar pelo seu blog.

    Abs.

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