terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Nossos olhares

Assino embaixo o texto do Leonel. Quero, a partir dele, dar uns palpites aproveitando algumas expressões por ele utilizadas em seu post sobre a teoria literária.

Sim! Nós não queremos fazer exegese histórica, ou "historicista". Nós queremos ler textos, nos encantar com textos, pois os textos são janelas para a vida sofrida vivida nos tempos "bíblicos". Nós queremos nos encantar com esses textos, porque textos são espelhos onde nos defrontamos com nossa aparência verdadeira, que ora nos enamora, ora nos apavora.

Onde escrevemos "histórica" e/ou "historicista", leia-se exegese "científica". Uma prática que nasceu mais ou menos bonita, como todo bebê, e logo se tornou um monstrengo pior do que o monstro que ela tentou matar e substituir. Desracionalizada a tradição da Igreja, demonizadas a tipologia e a alegoria, destronada a autoridade do Clero. Liberdade, diríamos. Liberdade, talvez até tenhamos conseguido. Rapidamente, porém, a tradição Acadêmica se torna um ferrolho tão gigantesco quanto A Tradição, seja ela inserida na Palavra de Deus, seja antropologizada nas confissões. Imediatamente se diviniza o método, a ciência, o moderno modo de abolir o antigo e fazer valer o novo, que envelhece tão inesperadamente quanto Benjamin Button. Destronado o clero, o trono do poder da Verdade é ocupado pelos venerandos Sábios cujo discurso promete Liberdade, mas entrega uma bela Jaula de Ferro (weberiana metáfora) a quem se dispõe a ler o texto, o estranho texto dos livros da Bíblia.

Sim! Não fazemos exegese "crítica". Não só porque aceitamos a divisão disciplinar do mundo acadêmico e nos submetemos humildemente à periferia do saber. Não queremos fazer exegese "crítica" que se coloca acima da Crítica. Nosso jeito de fazer crítica é outro. É, primeiramente, auto-crítica. Talvez seja exclusivamente auto-crítica, pois quem somos nós para criticar o Outro, a Outra, os outros e as outras que, teimosamente, como nós, continuam a ler textos antigos, amarelados, envelhecidos. Vinho... Nossa crítica é outra, é a crítica de quem bebe a taça de vinho lentamente, sorvendo cada gota, deixando-se embriagar, deixando-se transcender, deixando-se transportar para mundos fantásticos, míticos, impossíveis.

Mas também não fazemos exegese literária, nem exegese semiótica, nem estudos da recepção. Nossas teorias são apenas modos de olhar, visadas, pontos de vista - por isso, vistas de um ponto, dois pontos, três pontos. Pra falar a Verdade mesmo, acho até que nós não fazemos mais Exegese. Desaprendemos. Tornamo-nos ignorantes. Somos apenas leitores, contempladores. Não temos ciência. Temos, apenas, olhares.

2 comentários:

  1. Manifesto da Semana (blog) da Arte (do olhar) Moderna (não exegético)? rsrsrs.

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  2. poderia ser, mas não acredito em manifestos ... rsrsrs

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