quarta-feira, 28 de abril de 2010

Regra vs. Testemunho ou Lei vs. Graça !?!

Concordo com a predileção do Paulo pelo termo "testemunho" em relação ao "regra de fé".

De fato, a idéia de "regra de fé" é institucional, necessária para garantir a identidade doutrinária de instituições eclesiásticas para as quais a uniformidade doutrinária é fundamental. Regra de fé pede obediência, sujeição, aceitação incondicional. Regra de fé está na mentalidade da Lei e do Contrato. Regra tem a ver com experiência, com corpos que se movem rigidamente sob a batuta do comandante.

A noção de testemunho, por outro lado, é pessoal e não institucional. Testemunho pede fidelidade e não obediência, parceria e não sujeição, diálogo e não aceitação. O testemunho está na mentalidade da graça e da aliança. O testemunho tem a ver com a vivência, com corpos que se movem com liberdade e harmonia, ao som da melodia.

Após dois mil anos de cristianismo ainda ficamos mais encantados com a Lei do que com a Graça. Haja graça!

6 comentários:

  1. Kharis kai eirene

    Entendo que do ponto de vista histórico, houve muitos desvios e autoritarismo ao se defender as Escrituras como "regra de fé e prática". Todavia, desde o Concílio de Laodicéia em 363 a.D., a partir da tradição seguida por Atanásio, os cristãos assim designavam às Sagradas Escrituras. O vocabulário (kanon, metron, etc..) usados no epistolário paulino e afins corrobora com essa tal assertiva. Não estou forçando uma ideia ou conceito, mas está claro que a Sagrada Escritura, principalmente, 1 Tm 3.16,17, corrobora com essa proposição. Agora, os desvios históricos são outra coisa.

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  2. Pois é Esdras, mas o que uma frase significa é o que se faz com ela, e o que se tem feito com esta frase é tornar o desvio em "regra".

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  3. Concordando com o professor Julio, essa "regra" se torna um meio de alguns se legitimarem como "os donos da verdade",fazendo com que aqueles que não seguem esta suposta verdade de suas regras ditas como "bíblicas" sejam demonizados, tidos como hereges.

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  4. Kharis kai eirene

    O emprego indevido da definição não invalida a veracidade da sentença! Há inúmeras figuras e casos que podem exemplificar essa proposição.
    Para ser sincero, o debate não envolve estritamente a natureza linguística, mas aos aspectos sociais e ideológicos das quais nosso vocabulários estão impregnados.
    Vejo nessa controvérsia benfazeja e amistosa, lugares socioideológicos assumidos por cada um dos sujeitos envolvidos no debate. Por enquanto, apenas eu me pronunciei, assumindo aspectos ideológicos e sociais diferentes dos co-blogueirantes. Temos, portanto, posições divergentes e coexistência de diferentes discursos concomitantes. Logo, não se trata de definições linguísticas, mas sim de um objeto imaginário socioideológico, para fazer jus a Foucault.

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  5. Só para reforçar: o mau uso da lei não a invalida. É responsabilidade do sujeito primar pelo seu cumprimento, muito embora haja desvios. Assim também, o fato de haver desvios em relação às Escrituras não a invalida.

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  6. aro Esdras,
    As diferenças são bemvindas e o debate sempre enriquece quando é feito honesta e irenicamente, como tem sido o caso neste blog. Por isso eu agradeço a sua constante e sempre bemvinda participação.
    Quanto ao seu último comentário, um esclarecimento talvez caiba. Não estamos questionando a validade das Escrituras. Estamos questionando a validade de uma descrição das Escrituras. Nosso problema é o da interpretação da Escritura e não investiríamos tempo nesse tema se não déssemos valor à Escritura como fonte de sabedoria e valor para a vida.
    Não questionamos, por exemplo, a descrição da Escritura como "Palavra de Deus", mas, sim, a sua descrição como "regra de fé e prática". Ao descrever a Escritura como "testemunho" seguimos uma palavra que João atribui a Jesus em João 7. Para mim, "testemunho" é melhor descrição para a Palavra de Deus do que "regra de fé". Essa é a discussão ...

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