domingo, 18 de julho de 2010

Jr 31, intertextualidade e processo histórico

Júlio, tua explicação foi muito clara e elucidativa.

Ela me fez pensar em outra coisa.

No protestantismo temos como um dos axiomas interpretativos a afirmação de que "A Bíblia interpreta a própria Bíblia", seguida por outra: "um texto mais claro esclarece um texto mais obscuro". Encaixa-se, dentro desses postulados, a relação entre os testamentos via "promessa-cumprimento". Por exemplo, o servo do Senhor de Isaías 53 é Jesus Cristo, e no próprio texto de Jr 31, onde a nova aliança aponta para aliança realizada em Jesus Cristo.

Nesses exemplos e em outros o texto mais importante acaba sendo o posterior, que lança luz no mais antigo. Ele plenifica o que vem antes dele.

Mas, pensando em interxtextualidade e em interdiscursividade, dentro de um processo histórico, e parece-me ser impossível evitar tal processo, as afirmações anteriores cercam-se de dificuldades. Penso que antes do texto posterior ser o mais importante, o anterior é o fundamental por ser a fonte através da qual os posteriores se constroem. Portanto, afirmação de que a Bíblia interpreta a própria Bíblia deveria ser vista na contra-mão, isto é, pensada na forma como textos exercem influência sobre outros.

Que pensa sobre isso?

Um comentário:

  1. Penso que vc tem razão. A lógica "protestante" de que o texto mais recente dá o significado do mais antigo tem muito a ver com a lógica do "comentário" de acordo com Foucault, que é um mecanismo da ordem do discurso mediante o qual o texto "fundante" é, na prática, obscurecido e substituído pelo texto "fundado".
    O conceito de heterogeneidade constitutiva do discurso demanda tal compreensão do processo de produção de textos, sem postular, entretanto, uma relação meramente causal entre os textos.

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