sexta-feira, 16 de abril de 2010

Que é exegese?

Um dos objetivos deste blog é a discussão sobre a exegese enquanto tal, especialmente enquanto praticada na academia e aceita ou rejeitada nas igrejas. Nós não acreditamos que a definição e a prática modernas da exegese, que se tornaram canônicas na academia, ainda mantenham validade e legitimidade. Por isso, queremos propor e discutir novas possibilidades de compreensão da leitura/interpretação/exegese bíblica.

Aí vai um palpite-palpitação: Exegese é busca comprometida visando a análise, apreciação e conspiração com as possibilidades de sentido da convivência no mundo propostas pelo texto para nossa resposta transposta em novos textos e modos de viver.

(1) Mantenho o termo exegese para poder criticá-lo. Não seria muito mais viável simplesmente chamar o que fazemos com a Bíblia de "leitura"? Pelo menos não criaríamos a ilusão da necessidade do especialista em línguas originais, história antiga e metodologias vetustas;
(2) Poderia ter dito "tarefa" da exegese, mas aí ficaria no velho paradigma da leitura enquanto atividade acadêmica profissional especializada. Preferi "busca comprometida", pois ler é buscar algo que ainda não sabemos bem o que é, e buscar uma promessa, comum, uma cumplicidade entre texto e leitor que desejam transcender-se a si mesmos;
(3) análise, apreciação e conspiração: dimensões da leitura - procedimental (conjunto de fazeres que conjura uma astúcia; analisar é necessário, posto que o texto tem sua própria materialidade, sua própria manha, e não pode ser violentado por quem o lê); estética (apreciar é ser impactado existencialmente por uma obra de arte, é mergulhar na inspirada arte textual em uma procura por significação, sentido, auto-expressão...); ética (ou "espiritual", pois na leitura respiram - inspirar-expirar - transpiram, conjuntamente, leitores e textos, habitantes de um mesmo mundo espiritual: vento e-vento);
(4) possibilidades de sentido da convivência no mundo - talvez se devesse incluir "multiformes" - para dar espaço aos modos rabínicos e medievais de leitura, que pensavam o sentido em diferentes níveis, geralmente quatro - possibilidades porque todo texto é polissêmico e aberto, e a leitura não deveria enclausurar e "monotonar" essa abertura polissêmica, e o sentido (sentimento, significado, orientação, corporeidade - por causa dessa polifonia preferi este termo a "significação", mais à vontade na semiótica, que é a ação de sinalizar, apontar para - e que está na base, no processo que gera sentidos) é, não o do texto em si, mas daquilo a que o texto dá testemunho, a "convivência no mundo" - nossa vida em comum com tudo o mais que existe em nossa casa planetária-cósmica (altas transcendências, talvez em demasia?);
(5) com o perdão da brincadeira semântica - proposta, resposta, transposta - todo texto é um post, uma postagem (não só na mídia "blog", mas também na velha mídia "correio"; enfim, texto é mensagem, um levar daqui para lá, de alguém para outrem), uma tomada de posição (postura) "prévia" e "perante", que pede uma resposta mediante transposições e transpostagens das possibilidades significacionais de um texto para outros - textos e vivências, convivências...

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