quinta-feira, 13 de maio de 2010

Evangelhos Sinóticos e Hábitos Exegéticos

A pesquisa exegética no paradigma histórico criou hábitos exegéticos variados, alguns melhores do que outros. No caso dos Sinóticos, um dos hábitos, similar ao da exegese histórica do Pentateuco, é o da busca das fontes primitivas (desde a oralidade até a redação), com vistas a alcançar o "historicamente reconstrutível" (seja a ipsissima vox ou a ipsissima verba Christi/Iesu) - gerando um descompasso semântico-semiótico entre as perícopes e o conjunto do Evangelho. Mesmo a crítica da redação atua, comumente, a partir desse descompasso, definindo o que é redacional pela distinção do que é "histórico" ou "tradicional".

Esse não é um bom hábito para se entender o texto, pelo menos do ponto de vista semiótico (e eu ousaria dizer, também do ponto de vista da história - se pensarmos a história com Roger Chartier, Carlo Ginzburg, Peter Burke ou Jörn Rüsen). Pode ser útil para a hipotética reconstrução da história das comunidades primitivas (pesquisa legítima, é claro), mas não nos ajuda a entender o texto, pois comete o mesmo erro semântico da tentativa de explicar o significado de uma palavra por sua etimologia. Em outros termos, o significado de um texto não depende da sua "etimologia", ou seja, de sua história de composição. Significado é um elemento "sincrônico" em relação ao texto, sendo que o fator "diacrônico" é útil na análise das formações discursivas, mas não na análise do significado "textual".

Penso, independentemente da abordagem semiótica, que é mais do que hora de abandonarmos o hábito de inventar, ex nihilo, hipotéticas fontes, J, E, D, P, Q, PQP, etc...

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