quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Para a liberdade ...
Dois versos em Gálatas 5 mencionam a liberdade: 1 e 13.
I. Antes de discutir brevemente ambos, vejamos duas traduções bastante usadas nas igrejas protestantes:
ARA (Almeida, Revista e Atualizada, SBB): Para a liberdade Cristo nos libertou; permanecei, pois, firmes e não vos dobreis novamente a um jogo de escravidão. (v. 1)
Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Mas não useis da liberdade para dar ocasião à carne, antes pelo amor servi-vos uns aos outros. (v. 13)
ACF (Almeida Corrigida, Fiel): Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão. (v. 1)
Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo amor. (v. 13)
A. Não há diferença semântica no tocante ao v. 13, apenas escolha diferente de palavras e ordem sintática.
B. Quanto ao verso 1, há uma diferença fundamental: ARA traduz "para a liberdade Cristo nos libertou"; AFC "na liberdade com que Cristo nos libertou". A preposição grega está no caso dativo, e pode, de fato, ser interpretada como instrumental ou final; assim, só a gramática de casos não resolve a questão. O co-texto imediato também não ajuda a decidir a questão,permite ambas as possibilidades. O verso 13, porém, é esclarecedor - e tanto ARA quanto AFC erram a tradução: "Ὑμεῖς γὰρ ἐπ᾽ ἐλευθερίᾳ ἐκλήθητε" - a preposição grega é epi - que Paulo constantemente usa com o sentido de "com base em" ou "na base de". Assim, ao invés de "fostes chamados à liberdade", a tradução mais adequada seria "fostes chamados com base na liberdade (libertação messiânica)". Se isso procede, então no v. 1 a melhor opção será "para a liberdade" (ARA).
C. Como é costume das traduções cristãs do NT, ao invés de Messias temos a palavra Cristo. Isto distorce o sentido paulino, pois remete logo à nossa doutrina cristológica pós-Nicéia/Calcedônia, e nos afasta do messianismo paulino.
D. ARA e AFC suprem o verbo ausente do texto grego na segunda parte do v. 13; "não useis", considero que seria mais adequado traduzir assim: "não seja essa liberdade, porém, ocasião/plataforma para a carne" (e aqui Paulo segue na mesma linha de Rm 7,8.11, só que em Rm é o "pecado" que pode servir de ocasião/plataforma para, mediante a Torá, nos escravizar. O vínculo entre carne/pecado/Torá fica mostrado em Gl 5,13-14: "sede escravos (e não "servi-vos", muito simples) uns dos outros pelo amor, pois a plenitude da Torá se encontra em um único mandamento - ama o próximo como a ti mesmo". O jogo semântico aqui é o mesmo de Romanos 6-7: a libertação messiânica nos coloca no reino da liberdade, cuja natureza é escravidão em amor: a Deus e ao próximo. Ressalta, em Gálatas, que Deus não aparece na equação ...
II. Notas para pensar em I acima. Mais notas para reflexão: Kant, de modo brilhante, simplificou o jogo da liberdade em O que é o Iluminismo: autonomia versus heteronomia. Leitores simplistas, reduziram a liberdade à auto-satisfação, perdendo de vista o sentido kantiano da autonomia ("Eu" sou a fonte da Lei que me governa). Em Paulo, o jogo é parecido: o Messias liberta a humanidade da heteronomia - do pecado (seria tentador ver aqui a pulsão freudiana para a morte), da carne (o id freudiano), da Torá (o superego freudiano). Mas a nova liberdade no Messias é autonomia intersubjetiva: eu mesmo sou a fonte da minha própria ética e moralidade: ser escravo do próximo no amor.
E, aqui, podemos brincar com Hegel, que fala do amor como lei da liberdade, escravidão na liberdade ...
Somente notas para pensar ... Com base no ato libertador do Messias fomos libertados da heteronomia e chamados para viver na autonomia messiânica: ser escravo do próximo no amor.
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Depois de longa e tenebrosa ausência...
Pois é, caros amigos deste blog, depois de um longo, longo tempo sem postagens, estamos retornando às atividades. Pretendemos terminar a análise de Gálatas e depois iniciar uma abordagem nova. Logo daremos detalhes.
Agradeço a atenção carinhosa que sempre tiveram comigo, Paulo e Júlio.
Vamos em frente!
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