sexta-feira, 2 de abril de 2010

Um olhar: semióticos, plurais, crentes

Sou o Júlio. Professor, pastor, doutor, leitor. Faculdade Unida; Escola Superior de Teologia; FAENOR; FTML; FTL; SBL; SOTER; IPIB; CEBI; etc. Siglas-identidades-distrações.

Textos são entroncamentos de diversos discursos e práticas. Por isso, oferecem a quem os lê diversas possibilidades de compreensão, diálogo, apropriação, deformação. Entroncamentos mostram possibilidades, mas também criam temores. Ah! Antigo e sempre presente temor de pegar o caminho errado. Textos são máquinas do tempo onde passado presente e futuro se encontram e reencontram constantemente. Encontros e reencontros podem gerar prazer, alegria, esperança; mas também frustração, medo, dor, desespero. Textos são frágeis universos de sentido, contra-sentido, sem-sentido, além do sentido, aquém do sentido. Sentido – sentimento, significado, significação, direção, sensação. Por isso, textos demandam diferentes olhares. Propõem as mais variadas leituras de si mesmos. Convidam à imaginação, criação, análise, conversação. Textos que valem a pena ser lidos jamais cessam de ser lidos. Cada leitura, fechando uma porta, abre várias outras, especialmente quando a polícia da verdade insiste em dizer que só há uma porta...

Para começar: Gênesis 22,1-19. Estranha e familiar narrativa. Relato de um quase assassinato legitimado pela própria divindade. Filho morto pelo pai. É claro, a mãe foi deixada de fora da narrativa. Entroncamento de discursos pró-vida e pró-morte; discursos da realeza e do povão; discursos judaicos, cristãos, muçulmanos, filosóficos, literários, cinematográficos, e tantos mais. Figuras míticas-emblemáticas: Abraão, Isaque, Jumento, Empregados, Caminho, Altar, Fogo, Lenha, Faca, Mensageiro-Anjo, Carneiro, Montanha, Matagal. E, é óbvio, a figura mais estranha desta narrativa: YHWH-Deus. Reparou nas ações de YHWH-Deus? Chama Abraão, tenta Abraão (ou testa Abraão?), ordena-lhe sacrificar seu filho amado, descobre que Abraão O teme. Mas manda mensageiro na hora de impedir a morte de Isaque. Omite-se na hora H? Supremo Poder ou Suprema Indiferença? Ou?

Temor e Tremor? Fé? Angústia? Obediência? Pai? Morte? Vida? Holocaustos? Semi-nômades? Reis? Intrigas? De que nos fala este estranho e tão familiar texto? Genealogias. Arqueologias. Recepções. Transmissões. Entroncamentos. Rizomas. Enfim, olhares. Para não dizer toques, gustações, olfações, audições!

2 comentários:

  1. Bravo, Júlio. E parabéns a vcs pela iniciativa do Blog. Perceverança!
    Muito oportuna a reflexão sobre o fenômeno da leitura (leituras!). Que dialética: liberdade, verdade... Certamente libertade não implica falta de estudo, ignorância. Muita gente admite essa coexistência pensando em defender a primeira.
    Sobre a perícope que você comenta, Saramago (Caim) pode abrir horizontes, convidar à reflexão (com olhar crítico, obviamente).

    ResponderExcluir
  2. Obrigado Luiz. Imagino que o Paulo, que trabalhará o texto a partir dos estudos de recepção, fará uso do texto de Saramago. Agradecemos a sua contribuiçãoi.

    ResponderExcluir