A partir deste post proponho a discussão de 1 Samuel capítulo 1 em uma perspectiva literária, que deverá ser complementada por Júlio e Paulo a partir de seus respectivos referenciais de análise.
Como o texto pode ser lido a partir da Bíblia online disponível no blog, me abstenho de transcrever o texto.
Inicio com uma consideração a respeito dos elementos componentes de uma narrativa: tempo, cenário, personagens e narrador. Como fruto da interação desses itens, surge o enredo.
O que é importante dizer neste momento, é que, embora os dados históricos, sociológicos etc sejam importantes, como já discutimos anteriormente, para o entendimento adequado do texto - de qualquer texto - é necessário considerar os itens da narrativa a partir de suas funções internas. Por isso, quando tomo um dado histórico, por exemplo, e como primeira ação interpretativa eu procuro seu sentido e entendimento em uma perspectiva externa, a partir de livros que explicam a origem, desenvolvimentos e outros aspectos desse elemento, corro o risco de perder a perspectiva na qual o autor do texto insere esse dado em sua narrativa. Ou seja, é importante considerar como os aspectos que nos cercam são internalizados pelo narrador em seu texto.
Em 1 Samuel tomo como exemplo a citação do santuário em Silo. Todo ano Elcana com suas duas esposas, Ana e Penina (Fenena, em outra tradução), sobem para o santuário para oferecer sacrifícios. No entanto, como o texto indica, nessa ocasião Ana é humilhada pela rival pelo fato de não dar filhos ao esposo, ao contrário do que fazia Penina. O v. 7 diz que "isso acontecia todo ano", indicando que não apenas os sacrifícios, mas também a humilhação se repetia a cada ano.
Ao final da narrativa, com o nascimento de Samuel, Ana se recusa a ir a Silo com o esposo enquanto o filho não fosse desmamado (v. 21-22). Por quê? Por que ela não queria retornar ao lugar onde sofria humilhação. Voltaria apenas quando sua situação fosse comprovadamente alterada, com a presença do filho.
Isso significa que o santuário em Silo, para além de um lugar que pode ser identificado geográfica e historicamente, é um "elemento" atuante na narrativa. Sua função é indicar o local onde Ana era humilhada e onde, ao final, sua situação é alterada para um quadro de bênção.
Em próximas mensagens apresento outros aspectos da narrativa.
sábado, 19 de junho de 2010
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Interessante professor, ao ler a narrativa, como o narrador destaca dramaticamente as humilhações de Ana: Deus tinha tornado ela estéril/ afrontação da rival, Penina/ Ana aflita no templo orando é vista como bêbada e "vadia" (BJ) por Elí.
ResponderExcluirAssim, o narrador leva o leitor a perceber até que ponto Ana é humilhada para depois mostrar a reversão do quadro da personagem,de humilhada para abençoada.
Rogério,
ResponderExcluirExatamente.
Esse é basicamente o desenvolvimento do enredo, enriquecido pelos elementos da narrativa, que pretendo realçar em outras mensagens.
Ah! Quanto é penoso ler muitas vezes comentários sobre determinadas narrativas bíblicas que não leva em consideração a existência de tais elementos, elementos que são fundamentais para a correta apeciação (essa é a palavra) das narrativas sagradas. Obrigado. Um abraço.
ResponderExcluirwww.vosbi.blogspot.com
Francikley,
ResponderExcluirEu é que a gradeço a mensagem.
Me alegro por comentário tão pertinente, e mais ainda pelo fato de que lugares que outrora só nos trazem lembranças de humilhação e dor, podem ser o palco de testemunhos de bençãos. Que deus o abençõe.
ResponderExcluirNum determinado momento,ana toma uma atitude e se levanta,e apartir dessa ação ela fala com Deus da sua angústia e obtem resposta.Precisamos está de pé na presença do Senhor,e não nos entregarmos aos problemas.
ResponderExcluirAndrea,
ResponderExcluirConcordo plenamente. A exposição da humilhação da serva de Deus é mostrada para, ao final, exaltar sua busca e fidelidade a Deus.