Mudo um pouco o tema da discussões a respeito de Romanos não por discordar dos posts de Júlio e Paulo, mas simplesmente por não ter nada a acrescentar àquilo que eles têm dito. A esse respeito, sou acima de tudo leitor de suas mensagens.
Quero abordar Rm 12.1-2 de uma perspectiva provocadora, não no sentido negativo, de querer confrontar posições ortodoxas ou o que o valha pela simples razão da polêmica. Mas prococadora do ponto de vista hermenêutico, proponto um viés interpretativo diferenciado para o texto.
Normalmente o texto é interpretado, principalmente em suas duas questões principais: o "culto racional" e a "renovação da mente", em uma perspectiva individualista/moralista. Explico.
Eu, cristão, preciso desenvolver individualmente uma postura de santificação que resulta em uma entrega total da vida a Deus. Esse é o meu "culto racional", em oposição a um culto irracional, muitas vezes entendido nas igrejas tradicionais como uma oposição ao sentimentalismo, ao emocionalismo, aos dons, vivenciados pelas comunidades pentecostais.
Bem, primeiro é necessário dizer que, pelo que entendo, a melhor tradução não é culto "racional", mas sim "lógico", visto que o termo grego utilizado é "logiken". A oposição, portanto, é entre um culto que é ilógico, sem sentido, contraditório, e um culto que se manifesta coerente, que faz sentido, ou seja, lógico. Para desenvolver o culto lógico será necessário possuir uma "mente renovada".
O que proponho é que vejamos a terminologia cúltica não apenas como uma transposição tomada do culto judaico, de onde provêm os termos "sacrifício vivo, santo e agradável a Deus", mas sim em seu contexto concreto, de culto mesmo. Em outras palavras, por que razão aceitamos que os termos são originários do culto, portanto uma atividade coletiva, e o aplicamos à conduta individual do cristão? Isso não me parece muito coerente.
Penso, portanto, que Paulo está falando da reunião cristã como o culto a ser desenvolvido de modo lógico. Por quê? Em virtude das disputas e oposições que estavam ocorrendo entre as duas correntes que pertenciam à igreja de Roma: cristãos de origem judaica x cristãos de origem gentílica. E não é por menos que a disputa girava em torno de questões relacionadas à mesa, aos alimentos (cf. todo o capítulo 14), motivo de tensão já testemunhado por Atos dos Apóstolos, 1 Co 8 e Gálatas 2. E, lembremos, as reuniões cristãs eram feitas em casas, em torno da mesa onde a ação de comer simbolizava a comunhão entre todos e de todos com Cristo.
Mas a prática da comunidade romana estava distante daquilo que Paulo esperava. Eles estavam "se conformando com o mundo", agindo, na mesa, a partir de critérios estranhos ao cristianismo. Isso significava que eles precisavam, para vivenciar a comunhão e praticar o culto lógico, renovar a mente, a forma de pensar e conceber tais questões.
Convém, finalmente, destacar que os pontos em discussão em Rm 12.1-2 estão ligados diretamente aos temas do justo/justificação/graça, contrários à vida sob a lei, sob o pecado e, como produto final, sob a morte.
quarta-feira, 9 de junho de 2010
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Olá,
ResponderExcluirserá que a tradução "logiken" como "lógico" não carrega um pouco a idéia do que criticaste (oposição ao emocional, que por sua vez trás um pouco de ilógico...)? O que achas de traduzir lógiken como "profundo" ou "espiritual" (sem perder o contexto de culto, como mesmo mostraste) não no sentido "pentecostal" (pentecostal para o senso comum), mas em relação com justo/justificação/graça?
Kenner,
ResponderExcluirPode ser que eu tenha caído em contradição. Mas traduzi logiken por "lógico", querendo enfatizar o aspecto da "coerência" desse culto que Paulo ressalta, à luz da possível incoerência em que os cristãos romanos estavam vivendo.
A ideia de traduzir por "profundo" ou "espiritual", se colocada no contexto que descrevi, também cabe certamente.
Permitam-me meter o bedelho nesse debate ...
ResponderExcluirHá anos venho lutando com essa palavra "logiken". De uma coisa já tenho "certeza", não vejo nenhuma razão lingüística para a tradução "espiritual", ainda que defendida por grandes comentadores de Romanos!
A tradução "racional" seria a mais simples, não fosse o peso insustentável que ela carrega por causa dos debates filosóficos e teológicos. A opção "coerente" (ou "lógico) me parece oferecer boas possibilidades, mas não a faria em debate com uma possível incoerência dos crentes romanos.
Vou na direção do Leonel, e descreveria Rm 12,1-2 como uma exortação de Paulo aos romanos para que, nos cultos, eles praticassem a renovação da mente, ou seja, que a adoração a Deus servisse para a auto-reinvenção de cada um e da comunidade, e não voltasse ao modelo sacrificial, antropocêntrico ou teocêntrico. O culto seria muito mais uma "festa teológica-racional" do que uma reunião estética ou extática ...
Leonel, uma pergunta: Será que este culto "lógico" ou "racional" tem relação com a "obediência da fé" que aparece em Rm 1.6?
ResponderExcluirPenso que Paulo deseja que os "cristãos", embora não necessitem da Lei, devem também apresentarem-se diante de Deus puros, imaculados como bons sacrifícios, porém vivos (12.1). Esse tipo de "santidade voluntária" me parece ser o culto "lógico", ou mesmo a "obediência da fé". Acha que este é o caminho?
Também pergunto-me sobre o que seria exatamente o "culto" a que o texto se refere? Esse termo sem dúvida é um daqueles que conduzem os leitores modernos a equívocos exegéticos.
Anderson,
ResponderExcluirSim, essa discussão toma como base princípios apresentados anteriormente, entre eles a fé/fidelidade como único caminho possível para o cristão relacionar-se com Deus em Cristo.
Sim, o sacrifício comunitário, possível pela renovação da mente, é o contexto no qual Paulo valida o culto oferecido a Deus.
O culto toma como contexto lexical as cerimônias sacrificiais do AT e é aplicado e atualizado nas reuniões domésticas praticadas pelos cristãos.
amigo, super nem li nada ainda do que vc escreveu. só queria comentar sobre essa biblia online aí!! que loucura!que pratica!
ResponderExcluiramei. beijo
Rayssa,
ResponderExcluirRealmente, a Bíblia online é muito prática.
Estou sentindo falta de novos posts...o que aconteceu? Estão dando tempo para as discussões?
ResponderExcluirConcordo com o irmão Kenner Terra, o Texto acima é muito bom o Irmão João Leonel está de parabens. No entanto o apóstolo Paulo neste capítulo e versiculo um expõe os deveres gerais que devem fazer parte da vida do cristão como uma resposta aos dons da justificação pela fé.O cristão deve oferecer a Deus corpo e alma para o cumprimento de sua vontade. Refiro-me claro ao todo e não somente a um individuo. Sou pentecostal e prefiro a tradução que versa "culto espiritual" creio ser o mais logico para a logica abordada pelo texto.Pois o que procede do espirito supera a razão humana embora a segunda seja o complemento da primeira. Toda postura cristã deve seguir o bom siso.
ResponderExcluirHaroldo,
ResponderExcluirObrigado pela contribuição. Quanto a "espiritual" como proposta, sugiro a leitura da mensagem do Júlio logo acima.
ACHO DE SUMA IMPORTÂNCIA ESTES DOIS VERS. PQ AINDA QUE O TEXTO NA SUA AMPLITUDE TRATA DO CULTO RACIONAL DEVEMOS ENTENDER QUE DEUS NA SUA MAIOR AMPLITUDE QUER NOS MOSTRAR QUE O NOSSO CULTO RACIONAL NÃO PODE E NÃO DEVE IMPEDIR DE BUSCARMOS A ESPIRITUALIDADE, DENTRO DE UM CULTO RACIONAL.
ResponderExcluirapesar da carta
ResponderExcluirRmanos, ter duas divisões vejo
A melhor tradução é espiritual, pois uma liturgia pode e deve ser bem lógica, entretanto, pode se fazer por fazer, sem ser acompanhado por uma comunhão sincera.
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