Isso me chamou a atenção para uma perspectiva semelhante do ponto de vista da teoria literária. O crítico Antonio Candido, de modo particular, traz uma contribuição bastante significativa a esse respeito.
No livro Literatura e sociedade, no capítulo primeiro,
Crítica e sociologia, ele discute a relação entre literatura e sociologia. Partindo de posturas mais simplistas, que procuram dados sociais nos textos para
ilustrar a realidade social, ele chega ao ponto central, segundo sua proposta.
Sabemos, ainda, que o externo (no caso, o social) importa, não como causa, nem como significado, mas como elemento que desempenha um certo papel na constituição da estrutura, tornando-se, portanto, interno(p. 6).
Para Candido, os aspectos sociais são importantes como fatores de constituição interna da obra. Por exemplo, um determinado gênero literário, surgido em certo contexto social, será relevante à medida que condicione o modo como os conteúdos de uma obra serão dispostos.
É nesse sentido que vejo a análise do Júlio. Ele indicou os elementos sociais que estão presentes no texto, fruto do tempo e espaço de sua produção, mas voltou-se para o interior de Jr 31, indicando como esses elementos são utilizados pelo autor para produzir sentido.
Nesse contexto, a discussão sobre Deus e a proposta de uma visão específica dele não se torna abstrata, mas se constrói a partir das vivências sociais e religiosas que, ao mesmo tempo, são desafiadas e criticadas a partir de uma nova proposição apresentada em Jr 31.
Mais uma vez abordagens teóricas diferentes - semiótica e crítica literária - falam a mesma linguagem e se colocam à disposição para nos ajudarem no entendimento dos textos bíblicos.
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