Nós fomos treinados a descobrir verdades eternas nos textos bíblicos. Mas a Bíblia é muito mais um convite a ver e a imaginar do que a abstrair. No caso dos apocalipses o elemento visual e imaginativo é ainda mais marcante. Os textos são duplamente visuais. Em primeiro lugar, por que os profetas apocalípticos afirmam ter visto as coisas descritas e narradas em seus textos. E não há por que duvidar que, de alguma forma, estas narrativas tenham se originado de experiências visionárias, talvez em estado de transe. Em segundo lugar, por que as narrativas são verdadeiros convites para novamente vermos o que ali é narrado. O efeito retórico destes textos é provocado pela visualidade evidenciada em suas imagens: monstros descritos detalhadamente, que causam horror; cenas celestes, que causam maravilhamento e êxtase; cenas de batalhas e cataclismos que orientam à vigilância. Sem dúvida os apocalipses provocam o saber, o entendimento, mas se trata de uma compreensão que se dá pela contemplação imagética.
Devido a este elemento imagético é que se pode fazer uma introdução à apocalíptica e, em particular, ao Apocalipse de João, de forma visual. Na história de sua recepção o Apocalipse, mais que qualquer outro texto bíblico, recebeu recriações imagéticas. Elas tanto nos ajudam a perceber elementos centrais no texto, como também as escolhas dos leitures/expectadores de outras gerações. Iniciei nossa conversa sobre o Apocalipse 12 - um dos textos mais difíceis de toda a Escritura - postando uma mensagem sem palavras, apenas com imagens. As duas primeiras pertencem ao Apocalipse de Bamberg, do século 10. Lembremo-nos que a virada deste ano 1000 trouxe muitas especulações apocalípticas ao mundo medieval. A terceira imagem é do artista e místico inglês William Blake. Se vocês se dedicarem a comparar a primeira e a segunda com a terceira verão que representam olhares totalmente diferentes sobre a narrativa de Apocalipse 12. Na última postagem inseri três imagens que cobrem a cena do Apocalipse 12 do Facundus Beato, uma cópia iluminada do comentário ao Apocalipse do Beato de Liébana, datada do século XI. Aqui já temos uma terceira leitura imagética do texto, procedente do cristianismo ibérico, que ,ameaçado pela invasão árabe, apresenta o texto com cores marcantes e imagens dramáticas.
Sobre isso e sobre as tensões narrativas do texto, entre outros assuntos, seguiremos conversando, em diferentes olhares. Mas não gostaria de sobrepor já as imagens com as palavras. Fiquemos mais um pouco com as imagens.
Paulo, sou o Anderson, seu aluno da Metodista. Fiquei feliz com o blog e com as últimas postagens, onde poderá nos apresentar melhor as propostas de leitura imagética de que já nos vem falando há algum tempo. Especialmente porque desde o ano passado, tenho me interessado em Ap 12, que estudamos exegeticamente em sua disciplina.
ResponderExcluirAguardo ansioso por novas postagens. Obrigado pela iniciativa.