Enquanto o Paulo e o Leonel preparam seus monstrengos, e enquanto nossos comentaristas aquecem os seus tamborins, conversarei com o cânon do Leonel.
Primeiro, concordo com a descrição feita por Leonel. Sim, toda teologia escolhe um cânon peculiar, dentro do cânon maior, e esse mini-cânon é que de fato funciona canonicamente. O exemplo citado, da Confissão de Fé de Westminster, é bem posto. Nas Igrejas Presbiterianas no Brasil (pelo menos na IPB e na IPIB), a Confissão de Westminster é legalmente afirmada como A confissão presbiteriana, e os pastores devem subscrevê-la e defendê-la - os membros da igreja só precisam subscrevê-la. Provavelmente por isso é que a Bíblia foi embora do Presbiterianismo brasileiro ... Poderíamos, porém, multiplicar os exemplos semelhantes.
Segundo, uma palavra sobre o cânon bíblico. Tenho lido muito sobre essa questão, que voltou com tudo na pesquisa bíblica. Há muita coisa interessante e útil e tenho aprendido bastante. Entretanto, minha posição sobre o cânon tem se encaminhado para um lugar relativamente periférico no tocante ao conjunto da pesquisa bíblica e teológica.
Eis minha hipótese: o cânon bíblico não é fechado. É um cânon aberto, plural e inclusivo. Explicando: não uso o termo "fechado" no sentido tradicional de que não se pode mais incluir livros no cânon. Uso o termo no sentido de que não há, na Bíblia, um único modo de ver e falar de Deus que seja fechado a outros modos. Em outras palavras, uma constatação óbvia e não muito recente: na Bíblia há muitas teologias, diversas tradições. O não tão novo: isso é fruto do processo de canonização: é para ser assim mesmo. Por mais que tal pluralidade relativize a própria noção de cânon, o cânon bíblico não é fechado. Veja o caso do AT: há teologias antagônicas nele. Profetas como os do VIII século (Isaías e Miquéias no Sul, Amós e Oséias no Norte) não concordam conceitualmente entre si; contradizem as teologias oficiais das suas respectivas cortes e templos; descrevem o agir de Deus a partir de tradições distintas (reinado de Deus no Sul, êxodo no Norte), e oferecem distintas avaliações da monarquia. Poderia multiplicar os exemplos à exaustão.
Assim, em certo sentido, toda teologia tem de ter mesmo um cânon dentro do cânon - desde que a teologia permaneça aberta, plural e inclusiva. Desde que permaneça dialogal e dialogante. Desde que permaneça fraca e aprendente. Desde que aceite que tem, sempre teve, e sempre terá, "prazo de validade". Em especial, que a teologia aceite que o seu "prazo de validade" é de curta duração.
Este é meu cânon a partir do cânon e dentro do cânon.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
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