Enquanto espero novas postagens do Júlio, aproveito para comentar algo que é do conhecimento daqueles que lêem a Bíblia e mantêm os olhos na vida das igrejas.
Em teologia se discute a questão do cânon dentro do cânon. Se por um lado há afirmações ortodoxas a respeito da constituição e configuração do cânon cristão, por outro a prática das igrejas permite depurações.
Por exemplo, a muito tempo já foi notado o fato de que os Gideões Internacionais, ao publicarem seu Novo Testamento e incluírem nele os livros de Salmos e Provérbios, estariam trabalhando a partir de uma perspectiva prática do cânon. Do A.T. valeria a pena incluir apenas dois livros.
Em círculos teológicos é evidente que o cristianismo se estabeleceu, no Ocidente, a partir da teologia paulina. Por isso mesmo alguns propõem que o que temos hoje não é cristianismo, mas sim "paulinismo". E a influência de Paulo não para por aí. Basta ler um pouco sobre a história da interpretação para ver como seus escritos, principalmente Romanos, desempenharam papel central na vida de grandes homens como Agostinho, Lutero, Calvino, Barth.
Do mesmo modo, na Teologia Sistemática praticada na parte ocidental do mundo temos uma teologia mais paulina do que necessariamente bíblica.
Por curiosidade pesquisei na Confissão de Fé de Westminster, aquela que é a base doutrinária da Igreja Presbiteriana do Brasil e de outras presbiterianas ao redor do mundo, a presença de textos de Eclesiastes. Fiquei surpreso ao ver que há 7 citações do livro (esperava que o livro não fosse utilizado). A maioria de 12.7 (3 vezes): "antes que a poeira retorne à terra para se tornar o que era; e antes que o sopro de vida retorne a Deus que o deu", usado para confirmar que a matéria que constitui nosso corpo volta à terra, mas nossa alma, imortal, retorna ao Criador. As demais citações são: 5.4-6 (2 vezes), 12.14, e 7.29.
Bem, passou perto. O capítulo 7 é citado, mas não a perícope proposta pelo Júlio. Se Eclesiastes está timidamente representado na Confissão de Fé, Romanos, por exemplo, possui mais de cem citações.
Bem, temos uma evidência prática que os teólogos trabalham com um cânon dentro do cânon. Quais os malefícios dessa prática? O que se perde ao excluir Eclesiastes de nosso cânon prático? Espero que discutamos, pelo menos um pouco, essas questões.
terça-feira, 18 de maio de 2010
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