A. Eis a tradução/transcriação de Haroldo de Campos, que dá um pouco do sabor poético do original. Os trechos em negrito são meus, cometi a ousadia pecaminosa de interferir na obra, mesmo colocando a intervenção entre parênteses:
13. Vê a obra de Elohim
Pois quem poderá endireitar
O que ele entortou?
14. Em dia benéfico vive a benesse
E em dia adverso adverte (reflete)
Tanto este como aquele Elohim os fez
Para um fim
Que o homem não devasse no após-ele nada (não possa prever o futuro).
15. Vi de tudo nos meus dias-névoa-nada
Eis um justo, vida breve com sua justiça
E eis um iníquo
Vida longa apesar de iníqua
16. Não sejas justo em excesso e não te excedas em sabedoria
Por que provocares tua ruína? (desejas ser confundido?)
17. Não sejas iníquo em excesso e não sejas néscio
Por que morrer fora da tua hora?
18. Bom apegar-se a isto e também àquilo
De ambos não despregues tua mão
Pois quem teme a Elohim sai bem de tudo
19. A sabedoria dará força ao sábio
Mais que dez potentados
Que governem a cidade
20. Pois homem justo não há sobre a terra
Que faça o bem e não peque jamais.
B. A maioria dos comentaristas coloca o início da perícope no verso 15 e há grande discussão quanto ao término da mesma. Mas a maioria dos comentaristas também enxerga os v. 13-14 como elemento "conclusivo" de 7,1-12. Prefiro olhar para 7,13-14 (como é comum em vários livros da Bíblia) como um texto de transição: serve tanto de conclusão para o anterior como de introdução ao novo trecho. Não tenho nenhuma razão especial para encerrar a perícope no v. 20, a não ser que me parece que o v. 21 inicia um novo tema. Não sei porque a Bíblia de Jerusalém dividiu o verso 11 em dois na sua tradução - se você usa a BJ, a perícope começará no v. 14. Pelo menos um comentarista recorta o verso 19 e o coloca antes do verso 13 - esse comentarista entendeu melhor o texto do que os escribas judeus, é claro!
C. Uma das discussões interessantes sobre o livro de Eclesiastes é a relativa ao seu mundo interdiscursivo. Alguns colocam o livro no mundo da sabedoria véteo-oriental. Outros o colocam no mundo do helenismo recém chegado a Israel. Outros, ainda, o colocam nos dois mundos. Que eu penso? Eclesiastes é livro de sabedoria/filosofia. Transita entre mundos distintos. Aliás, quem inventou essa distinção entre sabedoria (coisa de oriental pré-racional) e filosofia (coisa de ocidental racional) se encaixa na categoria do "néscio" de Eclesiastes.
D. Fico por aqui. Amanhã começo a palpitar. Deixo vocês com o texto. Divirtam-se!
segunda-feira, 17 de maio de 2010
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